sábado, 17 de abril de 2010

Subterfúgio

"Levantei a cabeça do copo e limpei o suor da testa. Ao tentar levantar-me parti os copos que estavam na mesa. Alguns corpos olharam-me de soslaio em escárnio ou repreensão. Cambaleei em direcção à saída. Arrastei a minha carcaça até duas ruelas acima. Tinha chegado ao meu limite e sentei-me para não caír. Acendi um cigarro e olhei em redor. Nem vivalma para testemunhar o meu ridículo; ou para minorar esse desejo escondido que tenho de que os outros se compadecem de mim. Entorpecido, tentei afastar as tuas memórias e cauterizar essa ferida. Mas o meu lado masoquista não deixa de revolver e ruminar essas lembranças. Não que tenha prazer na dor, mas ela serve-me de muleta para me sentir vivo. Quis tanto estar errado, mas a realidade acaba sempre por apanhar-nos sem resposta. Num momento de lucidez ganhei forças para me levantar. Não como acto de coragem mas sim de desespero. Afoito ao resto de um mundo turvo pensei: "Quantos dias passaram? Quantos minutos perdi a afastar-te da minha vida?" Sem saber melhor apercebi-me que já tinha a resposta. "Hoje deixo de os contar. Hoje deixo de ser teu", pensei, enquanto me arrastei até casa."

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