domingo, 9 de maio de 2010

Insónia

"Fiquei mais uma noite em branco a pensar em ti. Pior. Em ti e em mim. Esse conjugar de verbos na primeira pesssoa do plural que me tira o sono; noite sim, noite não. Nevralgia persistente, maleita de estimação. Eco de um espectro doloroso que me arrepia a espinha e que me envergonha, essa vontade inapelavel de chorar e de gritar e exorcizar esses "demónios" e traições. Levantei-me outra vez da cama, acendi um cigarro e percorri frenéticamente para a frente e para trás o pequeno espaço da minha sala.

"Preciso de acalmar, preciso saír daqui, preciso saír de mim."

Mas isso não existe. O que existe é aquela enorme sensação de erro cometido e a impotência para o poder corrigir. E aceitá-lo ao ponto de turbar-se o raciocinio. A verdade é que ninguém tem verdadeiramente uma segunda oportunidade na vida, mas o que temos é muitas oportunidades semelhantes. Mas há quem não vá prevenido e que ainda sonha com redenções. Esfreguei os olhos à espera de sentir algum cansaço que me permitisse acalmar para adormecer. Nada. O tempo corria para o seu para o destino crepúscular e eu definhava. Fui até ao espelho e pelos olhos da insónia tive de ver que existe algo que me ultrapassa, algo mais além. Para além da palidez do meu sorriso e da agonia do auto-flagelo, existem carros e ruas e prédios e casas e familias e pessoas e vida por aí afora. Toda ela tão diferente de mim; tão desconexa da minha realidade, esses outros problemas e responsabilidades, essas outras noites perdidas que não as minhas, que ás vezes até as sinto fraternas em adversidade. Mas é assim que a vida se propõe a ensinar-nos algo. Pela dor e pelo erro. Agora os erros que cometi, esses já ninguém mos tira."

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