quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Saudade

"Sabemos bem que esta é única, e solitáriamente nossa. Filhos dos idos passados e de calendas antigas, vivêmo-lo como ninguém. Dedicámos mais do que o verbo para o definir, dedicámos uma alma e com ela a canção das nossas raízes. Dedicámos as vozes em coro, no lamento da terra rasgada pelas mãos da necessidade. Áridas paisagens que pintaram o quadro dos nossos Invernos, da quebra dos nossos legados e tradições. Do testemunho de gerações arrancadas ao seu seio, da morte da semente, do roubo dos nossos filhos. Carpido em mármore e granito deixámos um pedaço da nossa melancolia, do agridoce que compõe o paladar dos nossos feitos. Etimologia constante no imaginário dos meus pares, esses outros que tanto corpo deram ao mundo, que deram as epopeias e os heróis aos comuns. Desses que inventaram adjectivos para tanto sangue derramado em praias longínquas. Das histórias criadas para amenizar a dor e tentar validar de todas essas existências arrancadas ao abraço da vida. Hoje é dia de homenagem. Hoje estou trajado com a capa da dor, e com os pés enterrados na areia solto um olhar vago ao mar enquanto espero por um amanhã que me cheira a salitre."

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