sábado, 6 de novembro de 2010

Baluarte

"Viam-se as fogueiras pelos campos, pequenos focos de luz, confirmação de vida dispersa no breu da noite. E virou-se para oeste e correu o resto dos pontos cardeais. A vigia era constante e o medo maior. A omnipresença do seu baluarte podia ser observada a léguas, mas isso não serenava o seu ocupante. Sempre à espera de movimento, de validar o seu receio de inimigos, o seu temor escondido. Passaram-se estações atrás de estações, e do topo da sua torre viu apagar-se esses pequenos sinais de vida. Ainda não sabia se aguardava a vinda de ajuda ou de outras vagas hostis. Estas eram imagens perdidas de quem olha para um horizonte infecundo. Outros dias sucederam, e freneticamente corria de ameia em ameia na esperança de ver algo que justificasse a sua presença. Acelerava a sua velhice dia após dia no seu retiro, muralhado a solidão.
"E se não houver nada a esperar?" pensou. Tanto ecoou esta ideia que um dia decidiu sair do seu pequeno forte e abrir as portas de par a par. Sentiu-se aterrorizado pelo peso das estepes que o rodeavam, do silêncio dos terrenos, dos trilhos de quem não sabe se há-de ir ou vir. Mas não voltaria para uma casa vazia, não voltaria para a fortaleza que o defendia do nada."

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