segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

insustentável

"Pousei os talheres e tomei atenção ao televisor. Estava justamente a acabar a refeição quando me apercebi das imagens que me bombardeavam as retinas. Apressei-me a mudar de canal para ser bombardeado outra vez. Incontáveis actos de violência desfilaram sem apelo nem agravo. Senti um fogo lento nascer. Por momentos deixei de ser impassível e desliguei a televisão. Mas a violência que vi não falava de corpos mutilados. Falava de mães em pranto e de crianças sem eira nem beira, falava de pobreza e de loucura, falava do insucesso e do desvario, falava da dor de existir sem saber porquê. Falava de histórias do homem comum, e de como nos alimentam o ego de dúvidas e recalcamentos. E enquanto jantamos ou fazemos o que quer que seja está lá aquele ruído de fundo, por intermédio daquela caixinha de surpresas que nos dá o mundo a ver sem ter de o conhecer. Mas não é só aí, é nas ruas, nos prédios,nos cartazes que nos iludem, na boca das pessoas que nos confundem. Todos querem um pedaço de felicidade mas só falamos num choro entrecortado. E eu estou tão farto de não ter mensagens de esperança para dar."

Sem comentários:

Enviar um comentário