sábado, 16 de julho de 2011

semânticas

"Coibi-mo-nos de perguntar as coisas que realmente queremos com medo que de ouvir as respostas que sabemos. Mais especificamente as que nos dizem respeito. E acho que as palavras passam a ser realidade quando as proferimos, ganham força e sentido, criam asas e ultrapassam as ideias. Talvez seja esse o nosso mal. Dar tanta força ao que não queremos ouvir em palavras faladas. Ficam os resquícios semânticos de frases recicladas, pedacinhos perdidos nas entrelinhas.Um duplo significado escondido, um sinónimo por esclarecer. Peca-se na sua transmissão como quem conta um conto aumenta um ponto, amplifica-se o sentimento e desfaz-se o silêncio dos olhares. Mesmo que não se queira, repete-se e repete-se e repetem-se, até nos conseguirmos despir dos sons que compõem as quebras do vocábulo e dizer o que queremos sem medos. Não obstante o que se possa ferir pela voz."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

passivo-agressivo

"dois pólos de racional, uma pitada de sarcasmo, uma voz furiosa. um contencioso escondido, um trejeito animal,uma dúvida aparente. oscilam os pêndulos da voz, rege-se um salomónico duvidar da balança. voz pregada em vidas por amar, pela raiva das cores que nunca viu. narcoléptico sonho real, esculpido a sussurro e trovão. agitam-se violentamente os pratos de uma balança viciada. fecha-se os olhos à compaixão e desferem-se golpes precisos e cirúrgicos. alimenta-se a ironia e guarda-se tudo numa inviolável caixa de vidro. contemplam-se os ventos no olho do furacão e amaldiçoa-se a sua devastação. negam-se bálsamos e consolos para que se possa aprender a suportar e transformar a dor. compõe-se peças de um yin-yang pois tão certo é fazer um de duas metades."