sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

banal

""já não sei fazer isto" disse-te enquanto acendia as velas da mesa de jantar. Pelo canto do olho pude observar a tua expressão de assentimento forçado. Estavas a acabar de por os pratos na mesa e senti que não podias deixar uma pergunta retórica por fazer. Dão-se aqueles segundos tensos e maquinais, as fracções pesadas da espera em silêncio. Pude ver-te a morder os lábios como se tivesses um segredo por revelar, uma verdade escondida à espreita de sair cá para fora. Soube logo que não irias deixá-la passar. Na realidade, nunca deixas passar nada por ti. "já não sabes fazer o quê?" perguntaste com dolência; como quem larga alguém da mão. Curioso o gesto de colocares o ultimo prato na mesa como se servisses da linguagem do teu corpo como resposta inconsicente. Tive tempo para pensar no que te responder. Mas já estava na ponta da língua. Logo eu o homem das frases feitas. "já não sei fingir que está tudo bem, já não sei abrir as minhas e as tuas portas, já não sei onde ir buscar forças, sei lá...". Mas sabia bem; aliás; sempre soube quando algo esmorece. Mas por dentro só me criticava por nunca saber estar calado."

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