Naquele pequeno
espaço de tempo enquanto espero por mais um dilúvio, dou comigo no café. Não é
o café do costume mas já tinha dado uma espreitadela à meses. E eis que ela
cai, entre pequenos intervalos, algo como cinco minutos talvez. Inquietam-se os
turistas enquanto os de cá agem como se nada se passasse. Ja me apercebi que é
mais do que natural, é até corriqueiro esta forma de encarar as travessuras de
S. Pedro. O que já é pedir muito para um homem vindo de outro país, de outra cultura. De um país
onde o tempo passa devagar com o sol pelas costas, de um lugar onde uma cidade
resume-se a um punhado de gente.
Uma cerveja e umas
linhas como passatempo, parece-me um bom remédio creio. Pena não o poder fazer
a um ritmo diário pois nem todos os dias são merecedores de cerveja. Do canto do café observo esta torre de babel
viva, esta multiplicidade de sons que compõe este pedacinho da cidade. A pouco
e pouco vou tornando esta cidade minha e não o inverso, porque de entrega so a
tem a qual onde nasci. Mas ja há visões e pessoas familiares. Há espaços comuns
como tantas a pontes que atravessam o rio. Todas elas belas, todas elas locais
comuns, locais de encontro entre as duas margens. Use-se bem a metáfora.
Pelos recantos
deste bairro, não faltam exemplos da estética napoleónica, icones de grandeza e
odisseia clássica desde a avenida da opera até ao museu. Curiosamente por entre
todos estas odes ao nosso sentido visual a vida continua e rebate a face do
tempo secular. Por entre edificos milenares, os traços de uma civilização
incessante e incansavel. São carros à superficie e carruagens sob o solo. São
luzes e distracções, são pessoas ou multidões. Mas esta cidade também pára,
também dorme. E com ela durmo eu. E após tanto ou tão pouco dito nunca terei
dúvidas em afirmar que é fácil ser cidadão do mundo mas quem me tira Lisboa
rouba-me um pedaço da alma.
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