segunda-feira, 17 de março de 2008

Hoje e Amanhã...

Ainda o dia não tinha nascido e já tinha acordado. Os filamentos da terra dos sonhos ainda estavam presos ao meu corpo enquanto me sentava na cama. O meu quarto parecia uma cripta, que apenas se iluminava com a tua presença, e hoje mais só que nunca, o bafio deste mausoléu entorpecia e toldava o meu raciocinío.
Enquanto procurava os óculos na minha mesa de cabeceira, reparei que o teu perfume estava desvanecer lentamente do meu pijama, dos meus lençois. Sim, ainda não mudei os lençois que retêm o teu cheiro a côco e que nos abraçaram tantas vezes depois de nos entrgarmos um ao outro.
Acho que é o teu perfume que ainda me sustém antes de me ir deitar, que ainda me dá forças para não baixar os braços e aceitar o caminho mais fácil, o da derrota.
Levantei-me da cama e abri a porta para o mundo, e a casa estava na mesma; arrumada e cheirar a limpo como a tinhas deixado. As paredes nuas da minha casa pediam o teu toque, a tua graça com os poemas que tinha escrito. Ainda me lembro de te ter pedido pra mos escreveres nas paredes. Ainda me lembro de te dizer que hei-de fazer um poema só pra ti. Ainda me lembro de tanta coisa que não sei interpretar...
Quando cheguei á casa de banho para me preparar para um mundo hostil sem ti, ainda lá estavam as tuas coisas, que nem sequer vou mexer de modo a perdurar a memória de ti. Não pude evitar um suspiro, mas apenas uma semi-lágrima porque me impedi de chorar apesar de o sal limpar o meu rosto. Vou deixar as tuas coisas espalhadas por minha casa, para onde quer que olhe possa ver o teu sorriso e a tua aura.
Quando me despachei, sentei-me no sofá a fumar um cigarro e foi aí que tudo voltou para me atormentar... o medo de ti, de seres mais forte que eu, a insegurança de me entregar, a minha irredutibilidade de te aceitar como és e de como já mudaste a minha vida, o medo de seres algo mais importante do que possa imaginar e que te atravessaste na minha vida como um relampago a atingir o chão... descarregando toda a sua energia, pulsando no meu interior.

A memória da ultima noite juntos está viva como um quadro, um poema, um livro que basta apenas uma pequena contemplação para o reviver. Como todos aqueles que já nos foram subtraídos vivem sempre nos nossos corações.
Só te posso dizer que não sei onde está o amanhã sem te pedir perdão, onde está o amanhã se o hoje cessa de existir sem ti aqui, onde está o amanhã se o relógio parou e o calendário apenas me parece um aglomerado de numeros sem sentido. É bem provável que não te volte a ver, ou que não consiga chegar-me perto de ti, para te dizer que tinhas razão, para te dizer não sei bem o quê, para ficar apenas a olhar para ti sem que me vires a cara, para poder ver o teu sorriso mais uma vez, para dizer que te amo.
Sei que por muito que queira pode já não haver um amanhã para nós mas talvez na próxima vez, talvez na próxima vez, exista uma esperança para um velho cão. Pode ser que tudo mude, pode ser que possa viver de novo. Sem o receio de não ser compreendido, onde um dia possa entregar-me sem vaidade, sem arrogância, sem medo.

Será que é pedir demais poder voar?

2 comentários:

  1. Querer voar nunca é demais! Voar é o estado último de alguém, é a única forma de alcançar algo que nos ultrapassa, que nos escapa, por vezes há muito.
    Frequentemente desejo voar, mas também tenho medo. Primeiro quero ter asas, quero habituar-me a elas, perceber como funcionam e depois logo penso em voar. Não sem antes praticar, aprender, testar as minhas capacidades.
    Quero voar também. Sei que o farei um dia. Sózinha, acompanhada? Não sei, mas sei que serei capaz, e nessa altura nada me vai impedir.
    Quero alcançar grandes altitudes, percorrer grandes distâncias, sem nunca parar, sem nunca assentar.
    Não haverá porta, janela, barreira de qualquer espécie para me impedir quando conseguir voar. Tudo me será permitido e tudo terá um novo sabor. Tudo será doce, quente, quem sabe picante, tudo será bom e saboroso.
    Quando voar, não serei eu, será algo mais que eu, alguém com mais capacidades, o produto final de uma metamorfose permanente que sei que um dia também me incapacitará de voar, que me vai cortar as asas do mesmo modo como as criou.
    Esse dia não será triste. Será feliz, pois sei que nessa altra estarei preparada para caminhar, que já não preciso das minhas asas para voar.
    Nessa altura, dir-te-ei adeus e serei feliz.

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  2. Tas as ver na custou nadinhaaaaatas a veriiii

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