sábado, 9 de setembro de 2023

bardo

 passo pelos palcos e vejo e plateias vazias e indiferentes. procuro então árduamente o meu lugar. forço-o e luto pelo protocolo e a suas responsabilidades. entrego-me à cena e irrompem-se frases transitórias, servilismos e futilidades. ouvem-se contos de grandes feitos e histórias para adormecer. todos eles para gáudio da audiencia do momento. sejamos honestos, como um palhaço servil e risonho. tal e qual aqueles que viamos em criança no circo. os mesmos que capturavam a nossa atenção e nos roubavam as gargalhadas com a suas histórias de tragicomédia e arcos redentores de finais felizes e conformidades.

enfadonhas estas gentes que me observam e mais exasperantes as que me interpelam. são vozes sem contexto, corpos ocos e mentes desocupadas. pouco agitam o meu lado curioso e menos ainda a minha faceta epicurista. são clones de protótipos, lapidados por mãos preguiçosas e ferramentas rombas. turba enfadonha, uma multidão de rotinas inócuas.

para quê tantas reverências e salamaleques mal enjeitados quando contados todos estes momentos irrelevantes não passam de um simples cortejo de minutos desperdiçados, uma pequena lembrança de rodapé nos livros da existência.

 em comparação observo em mim os meus feitos e defeitos. o meu volúvel conjunto de ideias e a prática dos meus princípios servem-me de barreira. crio então os artífices que me servem de espantalhos, como uma sombras humanas que afugentam e amedrontam. e finalmente entendi porque é que já nao sou de ninguém há muito tempo. talvez desde sempre. e ja não sei se quero ser alguém de alguém.