sábado, 27 de março de 2010

Convulsão

"Limpei a boca com as costas da mão. O pútrido cheiro a bílis já se tinha entranhado nas narinas enquanto cuspia o resto do fel. O sangue fervia na fornalha do meu peito e tentava saír pelos poros da minha face. Tentei levantar-me mas não tinha força nas pernas. Aturdido pelas convulsões perdi o equilibrio e encostei-me à parede. Sem saber como dirigir os meus esforços só me conseguia lembrar do que me tinhas dito há minutos atrás. Como a espada de Damócles, o absoluto das tuas resoluções pendia sobre a minha cabeça e tinha-me decepado as forças. Tinhas retirado o resto que existia em mim na tua pessoa. Esse pequeno lugar que nos restava, que eu acarinhava e que tudo fiz para conservar. Sonhava existir alguém que dedicasse o seu tempo a pensar em mim. Foste tu. Mas hoje deixavas de existir e eu passava a ser um erro. Vomitava compulsivamente e purgava o meu amor por ti. Exactamente por onde me doía mais. Pelas entranhas."

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