terça-feira, 13 de julho de 2010

Pai

"Ainda ontem sonhei contigo. E sei que vou continuar a sonhar até que me digam que já não estás cá. Faço-o de forma recorrente sem saber. Sempre no mesmo plano; o familiar; mas em situações diferentes. Já encarnaste tantas personagens no meu imaginário, e curiosamente todas tem uma posição de paternalismo, não fosse esse o teu papel. Vejo-te sempre como se tivesse dez anos, imagem que perdura na inocente memória infantil, preciosa lembrança que o meu subconsciente quer manter intacta, inalterada. Já la vão tantos anos sem ti e parece que nunca me acostumei à tua falta. A falta dos dias em que parecíamos uma família, dos dias em que jogávamos à bola, das vezes que te ia visitar ao trabalho, das cumplicidades que compõem os laços entre pai e filho e que só hoje aprendi a acarinhar. E nos sonhos choro sempre lágrimas de redenção, as lágrimas da saudade, as lágrimas que tu me ensinaste a soltar sem medos. Sonho sempre com os abraços e com os sorrisos. Onde parece que está tudo bem, e te venho pedir os conselhos de amigo, de quem nada mais quer que o bem de quem é sangue do nosso sangue. Acho que gostarias de saber que já me passaste o testemunho e que hoje já és ancião. Hoje também sou pai como tu e pergunto-me se a minha ausência também te faz sonhar comigo.

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