domingo, 31 de outubro de 2010

Terra de ninguém

"Esfreguei os braços para combater o frio. Para além da chuva que caía modestamente, o vento que se fazia sentir arrepiava-me completamente. Mas mantinham-me acordado e trazia-me à razão enquanto o meu corpo respondia involuntariamente ao chamamento das ruas. Passos incertos mas decididos em continuar e continuar e continuar... Movia o dínamo dentro de mim e esperava ir descarregando lentamente toda essa energia, esse motor que nunca desliga, um motriz frenesim composto de ideias e emoções, prestes a quebrar o obsidiano. Quando dei por mim estava naquela rua outra vez, na rua onde nos conhecemos, de onde partimos em busca de sinceras vénias e partilhas. Vi que esta solitária rua onde se cruzaram as vozes abafadas pela reticência de quem estende a mão, é uma fronteira entre o meu e o teu mundo. E eu transpunha essa terra de ninguém ignorando os cortes da gélida chuva de granizo, não fosse esta uma noite de finados."

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