segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

inventário

"Uma cabeça, dois olhos, duas orelhas, um nariz, uma boca. Confere. Dois braços, duas pernas, dois pés e duas mãos. Confere. Em cada pé e cada mão cinco dedos. Confere. Dois pulmões, um figado, um estômago, um intestino de cada qualidade. Confere. Um pâncreas, dois rins, uma bexiga. Confere. Um coração. Não confere. Não confere?! Mesmo assim ainda me sinto anatomicamente correcto. Se calhar já não preciso disso. Creio eu. Agora sim, tudo conferido. Só me falta arrumar as ideias. Mas quem é que faz o inventário disso? E não são só as ideias completas, mas também aqueles raciocínios que ficam a meio ou aqueles fragmentos e pedacinhos que ainda não compõem uma ideia mas que espalham a semente. Tarefa hercúlea de arrumar e catalogar uma casa desarrumada. Passo a expressão à casa pois serve-me melhor o armazém. Para ser sincero nem me estava nada a apetecer fazer arrumações. Da ultima vez que o fiz foi uma poeirada que quase me perdi em tamanho nevoeiro. Fora ter de arredar caixas e caixotes, telas e papelotes, coisas perdidas de criança e projectos de homem crescido. O que tem de ser tem muita força, já me convenci. Vamos lá a essas catacumbas. Epá, espera aí. Um cerebro. Confere."

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