segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Exausto


Drenaram-me do resto que faltava. Deixo para trás casas e espaços vazios. Desapego-me do que ainda me mantinha esta esperança. Pouco mais resta desta carcaça. Olho em desdém para esta segunda pele e afasto-me sem piedade. Um outro nasce hoje sem almejar a nada mais. Resta-me viver, resta-me ocupar o tempo com o melhor que o mundo me pode oferecer. Não volto a olhar para trás, não é hoje que a maldição de Ló me atinge. Limpo e renascido, está na hora de abraçar o destino. Durante a minha exaustão tive tempo para me conhecer. Já não fujo mais ao que sempre soube. Tinhas razão e sempre tentei virar a cara. Às vezes o medo falava mais alto, embriagava-me e aturdia-me. Nós humanos somos assim, inquietos, assustados, à procura de validação. Não será esse o meu trilho. Hoje já não me afasto de mim. Hoje não me afasto por ninguém.



domingo, 7 de abril de 2013

ladainha

Custa-me abrir os olhos e ver os dias a passar como fechá-los e ver os dias a acabar. Custa-me automatizar as minhas palavras e gestos. Ser tudo para uns e nada para outros. Custa-me o arrastar dos dias no meio de todos e de ninguém. Custa-me ser o centro das atenções para mais tarde me eclipsar semana após semana. Custa-me procurar reconhecimento onde nunca o houve. Custa-me escrever antíteses atrás umas das outras e validar todas estas sentenças. Efémeros esforços diários, ladainha constante e irritante.