sexta-feira, 2 de julho de 2010

Acto II

"Às vezes ainda passo pela tua sepultura e contemplo a tua lápide. Esse padrão que assinala a tua existência; gravado em pedra, chorado em sal. Mas hoje não venho para chorar. Limpo a poeira no teu nome, e ajoelho-me perante a tua efeméride. A elegia já te era merecida e é irónico pensar que de nada servem as palavras se não as dissermos, se não verbalizarmos o que nos emana de cá de dentro, mas já estou sem forças para as articular. Especialmente para uma plateia de sombras. Prostrado, sigo a liturgia; o exumar de tantos momentos, de tantos destroços de tempo. O reavivar dessa pequena centelha que existiu para além de ti. Para além de nós. Mas desta vez nada renasce da pira fúnebre que compôs o cortejo.

Levanto-me e sacudo a terra, largo um ultimo olhar á relutância. Volto-me para alameda cipreste e deixo o sacrossanto para os fieis, as quimeras para quem sonha, e o pecado para quem o expia. Parece-me que ainda espero a negação desta realidade, uma forma de poder sair do compasso e quebrar a engrenagem que criou este segundo. Serve-me a ilusão por agora, porque não é mais do que isso. Agora apercebo-me ter vindo ao sitio certo, porque hoje vim dizer o adeus que já devia de ter dito hà muito tempo."

Sem comentários:

Enviar um comentário