sexta-feira, 25 de junho de 2010

Platonismos

"Abre-se já uma veia e sangra-se o mal de vez. Secular antídoto para a maleita. Diziam eles. O problema é quando o mal chega ao coração. Daí é levado para todo o corpo. A cada batimento mais veneno percorre as artérias, mais deturpa o raciocínio, mais infecta o julgamento. A mente deixa de reconhecer os seus atalhos e sinapses, perde-se nos trejeitos e manias e procura livrar-se do peso do corpo. Mas o mal já está feito, e espalhado o terror pelo seu ocupante, vive por intermédio do seu veículo. Deturpa a visão, confunde o tacto e transforma a linguagem. Obstinada enfermidade que nos reduz a liberdade. Ou o que nos resta dela. Cede-se então à vetusta lição e procuramos as punções para nos afastar de uma vida de tísico. Infelizmente o mal é comum, mas não é vulgar e a intensidade da sua violência é igual à procura do antídoto. Por isso, quem é que já não sangrou para tirar o veneno do corpo? Não que ele mate, mas rouba-nos anos de vida."

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