terça-feira, 10 de junho de 2025

Passageiro

 Do centro para este, neste dia de celebração e partilha, permito-me ir à descoberta de caminhos menos trilhados, povos abençoados e amizades longínquas. Permito-me a ligeireza da mente despreocupada e do repouso sazonal que só o processo de viagem nos pode proporcionar.

Os montes e planícies de um Portugal esquecido são acordados pelo trovão do comboio que ecoa e faz soltar a ferrugem dos velhos carris.

 São ermos compostos por velhas oliveiras, pinhais e eucaliptos, feno e solo arenoso. Verde e dourado polvilhado pelo gris. Pequenas elevações e baixios com uma ruína ocasional, algumas terras ao descuido das mãos que prosperaram. Outras com sobreiros desnudos que resistem ao sol escaldante do verão. 

Lugares tão antigos como as escaramuças seculares que por aqui se passaram, jazigo de sonhos de conquistas, de reis e barões, guerreiros e ladrões. Homens de convicção raiana. Pequenas aldeias a servir de fortes e espiãs.

Por agora sigo em direcção à fronteira onde outrora nos esperava o inimigo.

sábado, 26 de abril de 2025

Pátria

 Mais do que o eu, o nós. Mais do que um ruído é uma voz. É o resistir aos elementos que moldam a geografia, aos intentos que nos reduzem. Inveterado resistente aos cantos de sereia e de invasão, obtuso bastião de terras de ninguém.

Humildes obreiros que ousaram sonhar um sonho seu. Único fervor imbuído na coragem dos antepassados e no futuro da incerteza, carregaram consigo o padrão da descoberta e o espírito da aventura. O sonho de dar o mundo ao mundo, o de trazer para próximo o longínquo e provar a ciência contra o dogma. O anfitrião e convidado. O grande diplomata e o pequeno guerreiro.

História de órfãos e irmãos desirmanados que desfilam nas várias eras do homem, fado revelado entre a guerra e a dor, a conquista e a derrota. Canções de quem soube sofrer vassalagem e submissão e de quem se sacrificou nas revoltas da identidade. 

Não mais que o meu direito natal, pela língua que me assiste. Pela irmandade de quem foi fazer frente ao mais feroz dos seus inimigos. És mais do que o sítio que me viu nascer, será o meu leito que foi abençoado pelas arvores do eterno, será sempre o coração pelo qual me devo bater.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Teixo


Vinda do solo e da chuva,

Embalada pelo mão do druída

Rugosa e obstinada

Recusa a conformidade da estética


Refúgio animal e sacro destino

Porta vida e porta de morte

Frágil equilibrio universal

Sombrio recosto de Hades e alimentada em esquecimento


Companheira de Hecate

Forjada na força da vontade

E dos mesmos elementos que compõem a vida

Tem o mesmo vigor que o sonho de quem o plantou


Milenar obelisco de carbono

Elo perdido de outras eras

Sentada no trono da criação

Entre os reis do eterno e a ideia do efémero