domingo, 20 de fevereiro de 2011

Captain's log - Day five

“Acabou. E estou de volta. Aliás ainda estou a caminho e já tenho saudades. Especialmente das pessoas e não dos lugares. É o voltar para a cidade e os seus meandros. O lidar com a frieza do inverno em cada um. Que dualidade esta de amar a cidade e detestar as pessoas. Mas como tu me disseste e no qual gosto de acreditar: “Cidade, a fábrica dos sonhos.” Segue o asfalto de retorno e passam as paisagens por mim rápidamente. Com elas fica uma semana em que me dediquei ao mais básico de mim. Ao esforço físico, à entrega ao primordial. Ao instinto de superar-se fisicamente. Fica também a camaradagem e o fraterno. “Para o ano há mais” pensei enquanto soltava uma gargalhada. Vejo os paineis informativos para chegar a Lisboa, a cada dez minutos mais próximo, mais próximo, mais próximo. Sinto uma ansiedade crescente, por chegar à rotina, por ter de viver mais depressa e mais intensamente. Mas essencialmente aperta-me aquele nó no estômago porque a cada quilometro que passa estou mais perto de ti”.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Captain’s log – Day four

“É o penúltimo e eu não gosto nada de penúltimos. Nem da semântica da coisa. Parece-me sempre como ultimar, forçar um final ou uma resolução. Se cada dia é um episódio esta semana parece uma saga. Com todos os seus detalhes e rigores. Ou a falta deles. E ao penúltimo parece-me que fica sempre algo para dizer. As cidades hoje encheram-se de pessoas. Velhos e novos, homens e mulheres, idades e credos. Uns para ver os seus heróis, outros para participar da festa, qualquer que ela fosse. Define-se assim o bom povo português que sai sempre à rua quando é para dançar e celebrar. Procura-se esquecer a tristeza consentida que nos acompanha.

De heróis viram-se alguns, uns mais destacados, outros mais despercebidos. Dos destacados gabo-lhes a perseverança, entre quedas e suor. Entre vitórias e sorrisos e o companheirismo de quem chega por ultimo. Dos despercebidos gabo-lhes o resto, as horas matinais, o sacrifício físico que se sujeitam, o pegar no que sobra do festival. O limpar e cuidar, o nutrir e ajudar. Essencialmente o adormecer a pensar se o poderemos fazer melhor amanhã.

E como esses passam despercebidos, ninguém vê o verdadeiro esforço que colocamos nas coisas, ninguém sente esse desgaste. O de trabalhar no limite das nossas forças enquanto o povo dança e festeja . O que sobra por último é o conforto de ver uma máquina em movimento.Ver a felicidade no rosto de alguns, o sentimento altruísta que existe em cada um e que de vez em quando damos graças por ele existir. O conforto de saber que fiz parte de algo que é mais do que eu. Ver-lhe o inicio e o fim. Dever cumprido. Mesmo assim faço-o por gosto. Especialmente por isso.”

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Captain’s log – Day three

“Acordei vindo do esforço. Miseras horas entregues a orfeu. Bem sei que merecias melhor devoção, mas o destino assim o obrigou. Ficou o intento perdido na cama. A monotonia do asfalto rende-se sempre ao mesmo, ainda mais sendo eu o conduzido. Hoje, em jeito mais pastoril, tive oportunidade de observar um mundo rural que já não via há muito tempo. Estive tempo demais emparedado na urbe a viver uma azáfama constante. O facto curioso é que adoro a cidade e tudo o que a envolve. Ao observar o que me rodeava lembrei-me do sonho que o meu pai tinha para mim. Seria engenheiro agrónomo. Talvez ele tivesse razão, talvez não, mas hoje compreendo o seu pedido. Ele era um homem do norte, da raia. Homem de tradições e mezinhas, dos maus olhados e do contrabando fronteiriço. Ele que sempre quis o melhor para mim, pensou que pudesse deixar mais do seu legado ao encaminhar-me para um futuro que lhe fosse familiar. Deve ser genético então, ou como se diz, mal de família. A verdade é que hoje estou a sul desse sonho, e de minha casa.E faz-me falta sonhar.Por isso no final do dia, decidi-me a acender um cigarro e contemplar o ermo na serra. Agora percebo o meu pai e disse para comigo “Só tenho pena de não ter a tua companhia quando o sol se abateu e fechou os vales no escuro.” ”

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Captain’s log – Day two

“Hoje foi tudo ao contrário, levantei-me mais tarde mas ainda às escuras. Obriguei-me a entrar no banho e baptizar mais um dia. Saudoso joão baptista, também a minha cabeça entregue na bandeja. Mas pelo cansaço. Cá fora esperavam-me os irmãos de batalha, compostos e trajados. E eu ainda em falta. O céu soava a mau augúrio mas nunca se vira costas ao devido. Para espanto geral, os regentes foram beneméritos e a chuva não se adiantou. O tempo que escasseava noutros idos agora corria lento, plácido e moroso. Quando se volveu à carga foi tudo muito rápido. Tão rápido que até nos espantámos. Para quem toma o atraso com garantido...

O sol apareceu não tímido como esperávamos, mas sim pleno e quente.Ousámos roubar a cronos para mais tarde recordar. Soa a chavão mas é válido. Quando o o dia se resolveu fiquei para trás. Ao contrário do habitual, ruminei o dia e amaldiçoei quem manda. Eu que esperava um dia comum não o tive. Como me ensinou a lei de murphy. Amanhã outro virá, mais ou menos por donde veio hoje.”

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Captain’s log – Day one

"A auto estrada está pintada a negro à hora que saímos à carga. Um grupo de homens decide combater um adverso são pedro enquanto a rádio debita as musicas do antigamente. Sucedem-se as horas por entre trovoada e granizo. E nós lá. No meio da borrasca. E é ver partir para ver chegar. Das horas matinais diluem-se os esforços para que se faça o jogo da espera. Alados nos seus velocipedes foge um pelotão em procura de melhor tempo(s). E nós lá. Segue-se a azáfama das partidas. Mais uma moeda e mais uma volta. Retornamos desfazados à estrada matinal e os caprichos de um são pedro impiedoso. Volta e revolta, e tudo mais do mesmo mas em espaços diferentes, sempre à espera a contar os minutos para o esforço final. A excitação da chegada, o rádio que não se cala com informações. Em catadupa. E homens e pessoas amontoam-se nas chegadas. Tal e qual como aquele expresso que vem da cidade para a terrinha. Ei-los, os que voam como mercúrio com asas nos pés. Furiosos por conseguir o seu espaço. E nós lá. Até ao fim."