sábado, 19 de fevereiro de 2011

Captain’s log – Day four

“É o penúltimo e eu não gosto nada de penúltimos. Nem da semântica da coisa. Parece-me sempre como ultimar, forçar um final ou uma resolução. Se cada dia é um episódio esta semana parece uma saga. Com todos os seus detalhes e rigores. Ou a falta deles. E ao penúltimo parece-me que fica sempre algo para dizer. As cidades hoje encheram-se de pessoas. Velhos e novos, homens e mulheres, idades e credos. Uns para ver os seus heróis, outros para participar da festa, qualquer que ela fosse. Define-se assim o bom povo português que sai sempre à rua quando é para dançar e celebrar. Procura-se esquecer a tristeza consentida que nos acompanha.

De heróis viram-se alguns, uns mais destacados, outros mais despercebidos. Dos destacados gabo-lhes a perseverança, entre quedas e suor. Entre vitórias e sorrisos e o companheirismo de quem chega por ultimo. Dos despercebidos gabo-lhes o resto, as horas matinais, o sacrifício físico que se sujeitam, o pegar no que sobra do festival. O limpar e cuidar, o nutrir e ajudar. Essencialmente o adormecer a pensar se o poderemos fazer melhor amanhã.

E como esses passam despercebidos, ninguém vê o verdadeiro esforço que colocamos nas coisas, ninguém sente esse desgaste. O de trabalhar no limite das nossas forças enquanto o povo dança e festeja . O que sobra por último é o conforto de ver uma máquina em movimento.Ver a felicidade no rosto de alguns, o sentimento altruísta que existe em cada um e que de vez em quando damos graças por ele existir. O conforto de saber que fiz parte de algo que é mais do que eu. Ver-lhe o inicio e o fim. Dever cumprido. Mesmo assim faço-o por gosto. Especialmente por isso.”

Sem comentários:

Enviar um comentário