segunda-feira, 26 de abril de 2021

carpir

 às vezes pedem-me para ter fé. ou para sorrir e acenar mas parece-me sempre despropositado neste cortejo funebre dos nossos valores. obséquios de porcelana, reverências e vénias a reis depostos. frageis lamentos, o ténue gemido da humanidade sobre o chicote.

E sinto-me, vergo-me e contorço os cantos da boca em visível dor. Mas os milhões de olhos a minha volta clamam aos céus a sua existência e as vozes que choram servem o silêncio dos coniventes. 

as vezes pedem-me paciência e para ter compaixão, mas a turba é a maralha convulsa que se auto consome sem complacência, a mesma que se revolve em histerias colectivas. 

as vezes pedem-me para ser humano, mas não consigo deixar de o ser pois cogito o seu propósito. 


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